Na última semana de fevereiro, o Ibovespa, principal Ãndice da Bolsa, recuava 6%, descendo abaixo de 107 mil pontos. Quando o pregão foi encerrado, o Ibovespa havia caÃdo 7% e fechado a pouco mais de 105 mil pontos.
A queda era esperada, porém a derrubada foi além do previsto. Esse excesso em relação às estimativas dos analistas, mesmo em ambiente de grande incerteza, permite imaginar que, se a tendência de queda se prolongar nos próximos pregões, será em escala mais moderada.
Enquanto o pregão local permanecia fechado, na segunda e na terça de Carnaval, as Bolsas ao redor do mundo desabavam, com os temores de instalação de uma pandemia global de covid-19, o nome agora oficial da doença respiratória provocada por um novo coronavÃrus. Na Europa e nos Estados Unidos, os principais Ãndices recuaram em torno de 7%, nos dois primeiros dias da semana. Papéis de empresas brasileiras negociados em Nova York derreteram. Na quarta-feira, porém, quando o Ibovespa buscava alinhamento com as demais Bolsas mundiais, os pregões das bolsas mundiais ensaiavam um freio nas quedas das cotações.
Depois do recuo forte nos dias anteriores, exceto na China e em outros paÃses asiáticos, em que os principais Ãndices de ações continuaram a recuar perto de 1%, pequenas oscilações foram sentidas na Europa e nos Estados Unidos, onde as cotações fecharam em torno da estabilidade, registrando pequenas altas ou pequenas baixas. Mas o alÃvio é apenas momentâneo. Há um risco iminente de novas quedas bruscas e é nÃtido que as incertezas continuam predominantes no mercado. E incertezas no mercado são sinônimos de volatilidade acentuada. A reação das cotações na Bolsa brasileira, aparentemente exagerada, são um reflexo das preocupações com uma paralisação mais ampla e prolongada de suprimento das cadeias globais de produção, ao lado de um aumento nos cancelamentos de eventos e viagens internacionais.
O exagero no recuo das cotações chama a atenção para outro risco – este mais restrito ao mercado de ações brasileiros: o de que, com os cortes nas taxas básicas de juros, a migração dos recursos de aplicações de renda fixa para ações na Bolsa tenha sido excessivo. O aumento do fluxo de recursos destinado à Bolsa empurrou as cotações para cima. Contudo, em um ambiente econômico adverso, com persistente ociosidade – de máquinas e de mão de obra -, a relação da alta dos preços das ações com as reais perspectivas de resultados das empresas foi ficando, em boa parte dos casos, cada vez mais frágil.
Fonte: José Paulo Kupfer – UOL